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Tão longe, tão perto: notas sobre a vitalização no atendimento em linha

  • marinaribeiroblog2
  • 2 de dez.
  • 23 min de leitura

Este artigo foi publicado no Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro (Cadernos de Psicanálise) em 2025, sob autoria de Marina F. Ribeiro e Fátima Flórido César.


Resumo: Este trabalho aborda o atendimento on-line, aqui denominado “atendimento em-linha”, situando-o no contexto da psicanálise como intrinsecamente ligada à virtualidade. Refletimos sobre a importância de estratégias vitalizantes diante das transformações do enquadre e das particularidades de patologias não neuróticas. Para isso, recorremos às contribuições de Thomas Ogden e Anne Alvarez sobre o binômio vitalidade-desvitalização. O texto inclui ainda um relato breve de um encontro terapêutico, destacando o papel do analista como objeto vivificante.


Palavras-chave: Atendimento em-linha. Vitalização. Thomas Ogden. Anne Alvarez. Virtualidade.


Os teus olhos foram feitos para atravessar o invisível. (PEIXOTO, 2015, p. 95)

Tão longe. Tão perto. Tamanha distância geográfica separando analista e paciente não impediu, entretanto, a proximidade de afetos, a tessitura de um lugar de intimidade. Apesar de tão longe, apesar da separação pela tela, do longínquo dos corpos, da ausência de cheiros e percursos de ida do consultório para casa e vice- -versa. Apesar do lenço impossível para acudir o choro de dor. Apesar do relevante adoecimento psíquico que poderia alertar para a impossibilidade de cuidado terapêutico à distância. Apesar de tantos pesares, Eros comparece. Eros, enquanto ligação, transcende distâncias e lancinantes dores, possibilitando que o encontro aconteça.


O trecho com o qual iniciamos este artigo é representativo das diversas situações clínicas que foram surgindo a partir do momento em que atendimentos on-line passaram a acontecer com muito mais frequência, o que tem levado a questionamentos no campo da clínica psicanalítica.


Afinal, estamos praticando psicanálise quando nos encontramos com nossos pacientes na tela, no áudio ou no Whatsapp? Podemos considerar que essa modalidade de atendimento estaria de acordo com a necessidade de elasticidade da técnica, como propôs Sándor Ferenczi? Ou, ainda, seria semelhante à análise modificada cunhada por Winnicott? “Se nosso objetivo continua a ser verbalizar a conscientização nascente em termos de transferência, então estamos praticando psicanálise; se não, então somos analistas praticando outra coisa que acreditamos ser apropriada para a ocasião. E por que não haveria de ser assim?”. (WINNICOTT, 1962, p. 155).


A partir dessas perguntas, apresentamos neste artigo reflexões sobre o atendimento remoto, enfatizando a necessidade de dedicarmos maior atenção às estratégias vitalizantes. Seguimos também com breves relatos dos encontros de uma das autoras com a paciente que abre o texto, aqui chamada Lóri, que mora em outra região do país, sendo então a análise realizada remotamente desde o início da pandemia de COVID-19.


Pensamos que o invisível da tela banha os encontros analíticos a partir do possível. Invisível este que habita brilhante escuridão, e cujos caminhos escapam à lógica explicativa.


Eis aí a brilhante escuridão onde a transformação acontece atravessando o invisível.


Linhas virtuais e a disposição de mente do analista: reflexões acerca de um (não tão) novo dispositivo clínico e suas implicações éticas e técnicas


Diante de um novo cenário na clínica psicanalítica, que nos convoca a assumir novas posições ético-técnicas, surgiram importantes discussões acerca da terminologia a ser usada, de modo a precisar o alcance da modalidade de atendimento remoto, ou em-linha.


A psicanalista Lia Pitliuk (2021), no livro A sustentação de uma clínica psicanalítica em-linha (online), justifica sua escolha, afirmando que há duas razões para isso – em primeiro lugar, para evitar mais um termo de outra língua, mas...


[...] mais que tudo, pelo ganho da evocação da linha, do fio, do cordão que simboliza e sustenta, ao mesmo tempo, a união e a separação. No processo de amadurecimento psíquico, a exigência de contiguidade corporal para a sustentação das relações se estende, progressivamente, para formas de ligação cada vez mais simbolizadas; o mesmo vem se dando no âmbito dos processos analíticos – que, exatamente por isso, não merecem a designação de “remotos” ou “à distância”, como têm sido qualificados. Em-linha, declaremos interligados, conectados, vinculados (PITLIUK, 2021, p. 17, grifo da autora).

Assim, a dimensão vincular é convocada: o paradoxo que se apresenta “distante e perto” ganha vigor quando a intimidade é possível no atendimento em-linha. Trata-se de uma recusa das polarizações, como bem destaca Ricardo Rodulfo no prefácio do referido livro de Pitliuk – o “verdadeiramente psicanalítico” (p. 10) não está ao lado do que se nomeia presencial; é preciso, pois, como quer a autora, libertar a presencialidade de um lugar priorizado, para que vá além de seu significado empírico. Afinal, adverte Rodulfo, os atendimentos em-linha apresentam uma presencialidade própria, não restrita ao compartilhar do mesmo espaço físico pelos pares do casal analítico.


Compartilhamos com Lia Pitliuk a posição ético-técnica de abertura às demandas da contemporaneidade e à evitação da demonização das tecnologias de comunicação à distância:

(...) a psicanálise vem se aproximando cada vez mais da “vida como ela é” (hospitais, prisões, equipamentos de saúde pública de modo geral, moradores em situação de rua etc.), e experiências analíticas entre pessoas geograficamente distantes não fogem à regra: constituem-se em desafio igualmente grande e nos demandam as mesmas atitudes – críticas e inventivas –, voltando sempre nossa atenção para a singularidade dos usos, dos processos e das relações (PITLIUK, 2021, p. 24, grifo nosso).

Nessa direção, Luís Claudio Figueiredo (2021) também abre uma discussão interessante, pontuando a diferença entre “atendimento presencial” e “atendimento remoto”, mas não entre “atendimento presencial” e “atendimento virtual” [1] . Para o autor, a virtualidade se apresenta intrínseca ao dispositivo analítico (e à mente do analista) desde Freud até os dias atuais, estando presente em ambas as modalidades aqui em discussão:

O trabalho do analista – fazendo psicanálise-padrão, psicanálise modificada ou essa alguma ‘outra coisa’ que ele faz a partir de sua capacidade de escuta – sempre se dá na virtualidade, pois depende, de um lado, dessa disposição de mente do analista e, do outro lado, da disposição de mente do paciente correlativa à atenção flutuante em seu sentido ampliado (FIGUEIREDO, 2021, p. 76).

Figueiredo (2021) discorre sobre a mente do analista trabalhando fora dos enquadres convencionais, o que nos dirige de imediato ao tema da elasticidade da técnica, título de relevante trabalho de Sándor Ferenczi (1928), e em seguida à psicanálise modificada de Winnicott (1962), como já mencionado acima.


Tais modificações no enquadre, considerando as propostas desses dois autores, se impunham em função das necessidades dos pacientes com sua agonia proveniente de traumas precoces [2] e/ou que não se adaptavam ao enquadre- -padrão da psicanálise. Tais razões para conduzir uma análise, fora da técnica clássica, nomeada “psicoterapia psicanalítica”, são, porém, muito distintas daquelas decorrentes da imposição do atendimento remoto em função da pandemia causada pela COVID-19.


Na verdade, atendimentos remotos já eram realizados antes da necessidade imposta pelo vírus, quando pacientes se mudavam para outras cidades ou países ou eram transferidos por razões de trabalho, e desejavam continuar a análise com o mesmo profissional. No entanto, uma reflexão sobre essa modalidade de intervenção terapêutica ganha urgência a partir de um cenário que se desvela extensivamente para além dos limites de uma clínica presencial.


A questão de Figueiredo (2021), que também é nossa, assim se mostra: será possível instalar a virtualidade nos atendimentos remotos? E com que ganhos? Com que perdas?


Legitimando a elasticidade da técnica, Figueiredo (2021) aponta na direção de algo que julga essencial para a reflexão sobre os atendimentos remotos: o “enquadre interior” do analista, necessário para a instalação da matriz ativa, qualquer que seja o enquadre, inclusive o clássico (poltrona-divã):


Trata-se da disposição de mente do analista em sua dimensão ética e “técnica” e em sua capacidade de escuta: em outras palavras, é a sua presença implicada e reservada (FIGUEIREDO, 2008), sua “mente própria” (CAPER, 1999), sua atenção flutuante operando em seu mais amplo espectro e englobando todas as modalidades de escuta em análise (FIGUEIREDO, 2014, p. 123).

Figueiredo (2021) apresenta duas vertentes para o entendimento do que ele denomina enquadre interior. A primeira se refere à internalização da própria psicanálise como bom objeto interno: um vínculo amoroso com o próprio método analítico. O autor alerta para a ideia de uma “psicanálise amada” como fundamento de nossa posição técnica e ética.


A outra vertente é entendida a partir do conceito de Green: a estrutura enquadrante (GREEN, 1967/1988, 1993), que também se refere a um processo de internalização – não de um bom objeto interior, mas sim de um vazio capaz de recepção e de produção. Figueiredo (2021, p. 79) esclarece: “[...] a presença do objeto bom interior propriamente dito é apagada para deixar em seu lugar uma estrutura enquadrante operativa: um vazio vivo e vitalizado”.


Nos dois roteiros – da transferência com a psicanálise e da introjeção da psicanálise pelo psicanalista – se faz presente um enquadre interior. Não se trata, pois, da transferência com a pessoa do analista, mas sim da transferência com a introjeção da psicanálise, ela mesma como método: as escutas e o pensamento clínico psicanalítico.


Daí podemos concluir que, sem um enquadre interior bem instalado, fica impossibilitado o trabalho analítico em qualquer dos estojos; seja no enquadre clássico – poltrona-divã –, seja na análise modificada. Estamos certas de que o enquadre interior é fator fundamental para que se leve com criatividade e ética o atendimento em-linha.


Não há dúvida de que, nessa modalidade de atendimento, o inesperado fica mais presente ao faltarem os apoios materiais do enquadre interior com que o analista contava em sua prática habitual. Seguindo Figueiredo (2021, p. 81): “Talvez seja a parte mais frágil e vulnerável da mente do analista: a disposição de esperar o inesperado, manter-se no vazio, no incerto e no não saber”. E quanto às invasões da realidade? O enquadre interior do analista vai ter a função de moderar as turbulências, próprias e alheias, internas e externas de modo tal que será preciso estabelecer enquadres remotos sob medida, com funções de “estojo protetor” e montados caso a caso segundo as necessidades do paciente. O propósito fundamental é que seja possível a criação conjunta do espaço potencial:

É preciso que a realidade externa possa ser atenuada, filtrada, reduzida e mesmo negada para que se abra o território virtual, o território do sonho, do jogo, da associação livre, da escuta flutuante, da criação e, assim, o espaço dos trabalhos psicanalíticos (FIGUEIREDO, 2021, p. 82).

De fato, no atendimento remoto, fazemos o possível; entretanto, não podemos deixar de ressaltar as desvantagens. Para começar, as invasões de outras pessoas, o que Figueiredo (2021) denomina incidência de “realidades micro”, que podem prejudicar tanto a capacidade de escutar e pensar do analista, quanto a de associar livremente por parte do paciente: “[...] o excesso de realidade externa inibe, obstrui ou impede o acesso às realidades psíquicas, seus personagens, enredos, dinâmicas e climas emocionais, em especial, impede a realidade virtual compartilhada em uma sessão de psicanálise” (FIGUEIREDO, 2021, p. 83). A consequência de tal excesso pode conduzir à obstrução do sonhar e brincar em sessão. Precisamos nos manter no trabalho inconsciente para seguir com nosso enquadre interior, de modo a sustentar a virtualidade do dispositivo. Faltam, como adverte Figueiredo, as cores, os cheiros, os ritmos, por exemplo, a respiração de cada um da díade.


Em tempos de pandemia, nos vimos à mercê da invasão, na situação analisante, de uma realidade que não podia ser negada ou desmentida, das depressões motivadas, de uma necessidade de lutos frente a perdas demasiado reais. Atravessamos tal excesso de realidade, mas um tanto do que vimos acima de “microrrealidades” se mantêm.


Portanto, o enquadre interior não deve em condição alguma ser descartado, seja nos casos de análise-padrão, seja na análise modificada. E em algumas situações, como nos casos de pacientes neuróticos, pode se aproximar ao máximo da condição poltrona-divã, mediante a proposição do atendimento em-linha sem imagem e apostando na transferência do inconsciente reprimido para a fala. Já nos casos de adoecimentos não neuróticos, especialmente de pacientes apassivados, não há condições para o atendimento sem imagem, pois se trata de analisandos que precisam ser atendidos face a face. As palavras de Figueiredo (2021, p. 89) nos remetem à atenção das condições de tais pacientes e da situação analisante que se impõe: “as dimensões inconscientes envolvidas ultrapassam os domínios da linguagem, pois são experiências emocionais too deep for words (profundas demais para caberem nas palavras [3]), irrepresentáveis e inomináveis”. Aqui o atendimento em-linha cria mais dificuldades: nesses casos, para tentarmos dar conta dos obstáculos ao encaminhamento dos trabalhos psicanalíticos, propomos que lancemos mão de estratégias vitalizantes (considerando principalmente os adoecidos por passivação) que, nessa modalidade, requerem um investimento específico do analista.


Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar...


Com seu inesperado e tanto susto, a vida é a oportunidade da maravilha (MÃE, 2020, p. 30).

Lóri e eu [4] estamos juntas desde o início da pandemia, atravessando ora desertos ressequidos, ora “ruas ladrilhadas com pedrinhas de brilhante”: um trabalho para ambas quando cada ação terapêutica é coconstruída para vitalizar não apenas o paciente, mas também o analista e a própria análise. Ruas nuas pedindo para serem enfeitadas pelo vivo dos barulhos das casas com suas luzes, o verde do florescer nas calçadas, o alarido das crianças a correr.


Em nosso primeiro encontro, Lóri se apresentou com esta pungente e fundamental fala: “Eu sou tristinha”. É assim Lóri: ora rua empedernida, ora travessa chamando para a festa dos encontros. As sessões ocorrem segunda e sexta – intervalo de tempo assim estabelecido para que, na minha companhia, se sinta protegida do risco de cair num abismo sem fundo, caso as horas lentas do fim de semana venham a transformar-se em vazio e solidão.


Assombrada por desamparo e despreparada para despedidas, fomos construindo modos de amortecer possíveis quedas – descobrimos que trocas vivificantes podem ocorrer mesmo à distância, seguindo com cuidado e salvaguardando um tempo de delicadezas. Assim, criamos uma espécie de senha que nos lembra da separação iminente: aviso Lóri que o fim se aproxima quando faltam 2 minutos para terminarmos, o que nela desperta uma preparação para a despedida. Findos os dois minutos, ela se esvai da tela, evitando, com isso, que eu desapareça antes dela e possibilitando-lhe tomar em suas mãos, ativamente, o momento do provisório adeus.


Essa foi uma construção conjunta, na qual Lóri manifestou o gesto de sua necessidade, na direção do qual fui ao seu encontro, e criamos, assim, o ritual de despedida, de modo que a angústia de separação pudesse ser amortecida.


Dessa maneira, vou desenhando Lóri e nossos modos de encontro num campo que requer cuidado e delicadeza. Faz pouco tempo veio para a sessão bastante sonolenta: e, tendo de resolver algo da casa, não pudera dormir. Eu aguardava, acreditando que algo de amortecido estava ali sendo encenado. Até que Lóri, em gestos de vida, simultâneos a um movimento de regressão até a criança desamparada, clama: “me conta uma história”. Sou assim chamada, e recém-chegada da minha casa de origem, alimentada das raízes anímicas, conto uma história para embalá-la num adormecer mais vivo: “Na minha cidade, no meu bairro, visitei uma escadaria lindamente feita de mosaico. Letras se escreviam nos degraus: se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar ...”. E então Lóri começa a cantar junto comigo: “com pedrinhas com pedrinhas de brilhante, para o meu, para o meu amor passar”. Ofereço-me como objeto vivificante, capaz de me envolver profundamente com ela. Geramos juntas algo distante do morto, nos aproximando de uma experiência espontânea, visceral e inovadora para ambas.


Considerando que o que coube no encontro com Lóri foi único, faço uso aqui das palavras de Thomas Ogden (2016, p. 3, grifos do autor): “tal conversa é uma criação que somente esse paciente e esse analista (o analista que estou me tornando em análise) poderiam trazer à vida dessa maneira particular”. A fala com cada paciente é única – tanto o conteúdo, como a forma, com diferentes tons de voz, afinações, volume.


Vamos assim testemunhando uma significativa mudança de direção na psicanálise contemporânea: da ênfase no luto do velho para a criação do novo; do desenterrar de conteúdos reprimidos para a geração de futuros; do soterrado para o emergente; da perda para a descoberta; do morto para o vivo. Essa mudança na teoria da técnica nos direciona para estratégias de vitalização. Trata-se da geração de um processo interno vivificante que surge de uma profunda troca de afetos entre paciente e analista.


Importante ter em mente que vitalização não significa animar o paciente, mas sim propor estratégias que o auxiliem a entrar em contato com as várias facetas de seu ser, com sua capacidade de estar vivo, inclusive, caso seja necessário, com sua tendência a deixar de existir. Nesse processo de encontro de subjetividades, a alegria e o prazer autênticos podem emergir, dando vida a experiências até então pouco desenvolvidas, num movimento em direção à transformação. Sem negar as feridas do passado, ou experiências de morte, esperanças no devir podem se fazer presentes.


O fato é que diante de pacientes não neuróticos, apegados à beira de abismos, estratégias de vitalização se fazem necessárias nos atendimentos em-linha, de modo que possamos facilitar que vivam a vida o mais plenamente possível.


Constatamos então que cresce o número de psicanalistas que se dedicam ao esforço de definir o que seja vitalização e, de modo especial, o binômio vitalidade–desvitalização. Aqui, nos inspiramos em Thomas Ogden e Anne Alvarez, cujas ideias abordamos a seguir.


A linguagem e o tornar-se o mais plenamente humano


O que eu te falo nunca é o que eu te falo e sim outra coisa. Capta essa coisa que me escapa e, no entanto, vivo dela e estou à tona de brilhante escuridão. (LISPECTOR, 1988, p. 14). 

Ogden (2013, p. 37) poderia mesmo sintetizar as várias reflexões a respeito do tema em questão com a relevante afirmativa: “No decorrer dos últimos anos, tive cada vez mais consciência de que, para mim, o sentimento de vitalidade e de desvitalização da transferência-contratransferência é, talvez, a medida mais importante do que ocorre a cada momento no processo analítico”.


Priorizamos o papel fundamental dado à linguagem por este autor, como o uso de palavras que denominamos “palavras aladas” (CESAR; RIBEIRO, 2023), em razão de sua vocação de leveza e de abertura, de modo tal que seja possível a apreensão do sentido dessa sutil interação de vitalidade e desvitalização da experiência humana. Para tanto, com fins de transmitir em palavras algo da experiência de estar vivo, é preciso que as palavras estejam vivas – a condição para tal é que guardem imprecisão, distinta de sentidos fixos. Que a palavra e sua sombra cintilem em “brilhante escuridão”.


É nesse lugar de “brilhante escuridão” que o vivo emergente das trevas pode fazer sua aparição: no que escapa, no que se esquiva de transparência e revelação, no que se inscreve em reticências, no não saber e sua abertura, sua concavidade e entrelinhas. O oposto do que aqui nomeamos palavras aladas é quando a linguagem do analista ou do paciente fica estagnada, perdendo, com isso, sua vocação de transmissão do sentido da experiência humana viva.


Nessa medida, como nos lembra Ogden (2013), precisamos manter certa inexatidão nas palavras e ideias: o cultivo de uma mente imaginativa, mente que se desloca em voo de um lugar (emocional) a outro, sendo desse modo capaz de captar os mais tênues, sutis, delicados sinais de vida. Em torno da imaginação que, segundo Ogden (2010), é sagrada na sala de análise, é que vão se tecendo narrativas num diálogo que une o par analítico.


Assim foi com Lóri, que, sedenta, me jogou garrafa ao mar com a mensagem: “conta uma história”, e eu recolhi seu pedido, na outra margem do largo oceano que nos banha, lançando mão da minha mente imaginativa, à deriva; entretanto, aportando no que poderia resgatar minha paciente de seu estado amortecido. A imaginação, sagrada imaginação, é assim vitalizadora.


Retomando as ideias de Green (2002), podemos falar que aqui comparecem os estojos de proteção e, consequentemente, fazendo uso da elasticidade da técnica, devemos manter o enquadre interior da analista. Na medida em que a matriz ativa é preservada, também o é a virtualidade intrínseca ao analisar e, de modo especial, a mente do analista.


Retornando a Ogden (2013, p. 202): “Sugiro que o analista deva lutar ativamente com a linguagem no empenho de criar ideias e frases e voz própria para pronunciá-las. A luta para transmitir a própria experiência com palavras, e com voz própria, é grande parte do que constitui estar vivo na relação analítica”. O autor destaca a linguagem como vetor de vitalização, possibilitada pela liberdade imaginativa do analista. A capacidade de estar vivo em análise e na vida comporta o experimentar o mais amplamente possível as emoções humanas, alegrias e tristezas, desde a descida aos infernos até o emergir de naufrágios.


Para o autor, o principal objetivo da análise consiste em auxiliar o paciente na ampliação de sua experiência de estar vivo. Se acompanho Lóri em seu flerte com o abismo, em seu espreitar o fundo do poço sem fim, também somos capazes de retornar à superfície viva da realidade, a que pode fortalecê-la na fé de que a vida pode ser oportunidade de maravilha, embora com tanto inesperado e assustador – como bem diz Hugo Mãe (2020).


É maravilha, assim, uma canção entoada por nós – canção que remete às origens e cativa as almas empedernidas com o propósito de um libertar nas águas do singelo.


Uma posição ética – aqui destacamos – deve se constituir “o ser analista” em tal presença que seja capaz de proporcionar uma experiência nova e benéfica que é fundamentalmente generativa. Vale ressaltar a salvaguarda da assimetria na dupla, com a condução do processo em mãos do analista; a virada vivificadora – de estados anestesiados a trocas vivas – parte do trabalho conjunto, com o paciente também ativo ao oferecer alguma abertura para sair de seu estado entorpecido. Assim foi com Lóri.


Destacamos que, como vimos em Ogden (2013), nos atendimentos de pacientes não neuróticos, no enquadre em-linha, a vitalização se faz ainda mais premente.


A seguir, acompanharemos o conceito de reclamação de Alvarez (1994) e, por fim, a “sedução suficientemente boa”, de Cesar e Ribeiro (2023).


Companhia viva


Basta-me um pequeno gesto,/feito de longe e de leve, para que venhas comigo/e eu para sempre te leve… – mas só esse eu não farei./Uma palavra caída das montanhas dos instantes/desmancha todos os mares e une as terras mais distantes…/– palavra que não direi. Para que tu me adivinhes,/entre os ventos taciturnos, apago meus pensamentos, / ponho vestidos noturnos, – que amargamente inventei./E, enquanto não me descobres, os mundos vão navegando/nos ares certos do tempo, até não se sabe quando…/– e um dia me acabarei. (MEIRELES, 1994, p. 171) 

Com Ogden, destacamos o lugar da linguagem como vértice de vitalização, o binômio vitalidade-desvitalização como porta-voz de como se encaminha o processo analítico, sendo o objetivo da análise auxiliar o paciente a tornar-se o mais plenamente humano.


Seguimos agora com Anne Alvarez e sua clínica de crianças e adolescentes autistas, pacientes borderline, sujeitos abusados. Frente a tais pacientes em estados de quase morte psíquica, Alvarez (1994) desenvolveu estratégias de vitalização, especialmente a que ela denomina reclaiming [5]. Entendemos, porém, que as ideias da autora são esperançosas e aplicáveis aos demais pacientes que apresentam impasses terapêuticos – aqueles que lutam para se sentirem vivos emocionalmente, necessitando da “companhia viva” do analista, como é o caso de Lóri.


No livro “O Coração pensante” (2021), a autora canadense, que se apresenta como psicoterapeuta e não como psicanalista, discorre sobre três modos de intervenção terapêutica de acordo com o grau de gravidade do paciente e de seu nível de desenvolvimento: o nível explicativo, o nível descritivo e um terceiro, aqui em destaque, o reclaiming.


Segundo Alvarez (2021), no nível explicativo, o trabalho se dá com crianças capazes de estabelecer vínculos causais. O analista usa então interpretações “por quê – porque” (Freud e Klein). Nesse nível, as crianças têm relacionadas as emoções ao presente e ao passado.


Já o trabalho descritivo se estende ao “quê” da experiência - com os pacientes podendo vir a identificar suas emoções, dando nome e ampliando seus sentimentos. Neste nível, Alvarez (2021) se refere ao conceito bioniano de continência, mais dinâmico, diferenciando-o da neutralidade, destacando o trabalho emocional que ocorre dentro do analista, de contenção e manejo em um jogo equilibrado de forças. Tal trabalho foi equiparado ao estado de reverie materno, quando a mãe recebe a projeção da angústia do bebê dentro dela, sendo capaz de contê-la e devolvê-la sob outra maneira. Em termos bionianos, o ocorrido na mãe e no analista a partir do impacto da contenção inicial, é denominado transformação. Apresentamos brevemente os dois níveis de intervenção terapêutica com o intuito de encaminharmos o leitor para o terceiro nível, o do reclaiming, que nos interessa de modo primordial por se referir à vitalização e, podemos ousar, à necessidade de usá-la no atendimento em-linha – muito embora, nessa modalidade, os três níveis possam ser usados com pacientes nos quais predominam níveis primários de funcionamento.


Aprendemos com Alvarez (2021) que, para alcançarmos nossos pacientes, devemos ter muito tato e disponibilidade emocional, independentemente do nível simbólico, o que exige de nós diferentes estratégias de manejo. O reclaiming ganha destaque quando sentimos que o paciente está nos escapando, tal como no movimento de retraimento belamente descrito por Cecília Meireles (1994, p. 171): “...Uma palavra caída das montanhas dos instantes / desmancha todos os mares e une as terras mais distantes... / - palavra que não direi”.


Para além do insight e de outros níveis mais primários, Alvarez (2021) postulou a necessidade deste terceiro nível – da palavra não dita –, considerando tanto a psicopatologia quanto a técnica. Essa necessidade se originou de seu trabalho com Robbie - atendido desde seus treze anos até completar trinta (com interrupções), um paciente gravemente adoecido, que apresentava retraimento severo, com ameaça de morte psíquica, demandando uma postura mais ativa e ágil da parte do analista.


Surge assim a vitalização e o reclaiming - intervenções terapêuticas que colocam o analista oferecendo-se como objeto vivificante junto a pacientes dissociados, primitivos visando atrai-los para o mundo dos objetos e emoções. Robbie se aproximava mais de uma desistência do que de um refúgio defensivo - como uma ameba indefesa (ALVAREZ, 1994), não um crustáceo com suas defesas (TUSTIN, 1984), ele havia desistido, estava perdido mais do que escondido. Alvarez esclarece: “o refúgio ao menos oferece um lugar para ir; o deserto não oferece nada” (1994, p. 179).


Na experiência do reclaiming, o mundo psíquico do paciente é chamado à vida, de modo análogo a terras improdutivas que são reivindicadas em seu potencial de florescimento. Em nota de rodapé, Alvarez (1994) amplia o sentido do termo: “incluir atrair (aves) com reclamo, instrumento que o caçador usa para imitar o canto das aves que deseja atrair”, e enfatiza que “o sentido de trazer de volta fica evidente” (p. 64).


Sobre sua experiência de reclaiming com Robbie, Alvarez relata seu temor de tê- lo perdido de vez, pois nada o alcançava. Então ela colocou sua cabeça em sua linha de visão, e chamou seu nome. De repente, como emergindo das profundezas, ele disse “Hello-oo”, com admiração e doçura, como se estivesse cumprimentando um amigo, há tempos perdido.


No processo clínico que se seguiu, Robbie passou a estabelecer contato com sua terapeuta e o seu mundo de sentimentos. Reconhecemos no trabalho de Alvarez esperança e compaixão, assim como no contato com Lóri, em que o uso da vivacidade da analista foi demandado – mesmo considerando que seu retraimento não era tão severo, foi necessária uma postura mais ágil e ativa, acompanhada de uma posição de reserva [6] .


Outra fala de Alvarez cabe aqui: “o paciente não quer que o reivindiquemos - ele está doente demais ou distante demais para isso. Ele precisa que o reivindiquemos”. (1994, p. 128). É verdade que Lóri fez um tímido gesto, mas o identifiquei como uma necessidade. Também considerando a tela nos separando, a ausência do corpo, nossa hipótese é de que tal uso da vivacidade do analista faz-se mais premente no atendimento em-linha – trata-se de uma psicanálise mais voltada para o futuro.


Nos tempos atuais, esse novo modo de atendimento, como vimos, veio requerer meios de atuação que vêm sendo gestados desde Ferenczi, encaminhando-se no seio do que Ogden (2020) denomina psicanálise ontológica [7], oferecendo instrumentos que nos aproximam, paradoxalmente em meio à distância, para que tenhamos condições de alcançar o paciente, tocá-lo, auxiliá-lo em seu movimento de tornar-se o mais plenamente humano.


A sedução suficientemente boa no atendimento em-linha


Entendi que minha função era acolher Lóri e tratar sua tristeza, mas também chamá-la para suas facetas saudáveis. Atravessamos sessões em que desertos de desesperança dominavam o cenário, outras em que a esperança despontava graças à potência do encontro. Certa vez, ela me falou de seu medo da loucura num contexto em que pude vislumbrar os aspectos saudáveis também presentes, porém, não integrados, ocultados pela sensação de estrago e empobrecimento no mundo interno. Disse-lhe então: “Do chão não passa”. Lóri se tranquilizou, e me lembrei de uma parlenda, que narrei como um acalanto – ela logo me acompanhou, e o acalento se espalhou na sessão: “Hoje é domingo. Pede cachimbo. O cachimbo é de ouro. Bate no touro. O touro é valente. Bate na gente. A gente é fraco. Cai no buraco. O buraco é fundo. Acabou-se o mundo”.


Vislumbramos juntas que, nesse momento, uma espécie de fé na vida se acendia, que seu buraco não era desses, não era esse cair para sempre a que a aparentemente inocente parlenda se refere, talvez mais tenebrosa do que as agonias impensáveis nomeadas por Winnicott (1963/1994). O chão era, aqui, como lugar de descanso e solidez para o assentamento do vir a ser.


A partir de investigações sobre a função vitalizadora e das estratégias vitalizantes do analista, nomeamos em outro texto (CESAR; RIBEIRO, 2023) a ideia de “sedução suficientemente boa”. Essa expressão tenta aproximar a reflexão sobre a sedução na sala da análise como vitalização necessária: seduzir para favorecer o processo analítico, seduzir como um convite à vida. Cunhamos tal termo a partir da “mãe suficientemente boa” de Winnicott; afinal, a mãe é quem primeiro libidiniza o bebê (RIBEIRO, 2011), e o convida para a vida. Estamos aqui falando de Eros para além de seu significado sexual – Eros como ligação, Eros-linha, Eros-cordão:


Estar de um modo criativo junto ao paciente é elemento de força vital. O que aqui pensamos como presença erótica, que começa nas trocas mãe-infante, estende-se para além destas e do puramente sexual para uma “joie de vivre” – uma paixão pela vida em seus altos e baixos – o sexual aqui resgatado numa concepção ampla, a mente enraizada na dimensão erótica do corpo: o nascedouro do vivo entre ternuras e ardências (CESAR; RIBEIRO, 2023, p. 177).

Assim, quando canto com Lóri ou recito a parlenda, convido-a para uma singular coreografia erótica (ELISE, 2017 [8]), lançando a linha-cordão para nos sentirmos vivas no encontro e podermos caminhar na direção da esperança depois de percorrermos áridos desertos, depois de descidas ao inferno. Uma interpenetrabilidade de mentes, de fragilidades e potências. Cenas acontecendo no atendimento em-linha.


Afinal, como bem diz Pitliuk (2021, p. 52):


De fato, não há nada mais sugestivo, e com tantas ressonâncias, do que a ideia de ligação por fio ou cabo (de telefone, de internet, de fones de ouvido): o cordão umbilical, o cabo que liga um astronauta à nave-mãe, o barbante do carretel do neto de Freud (1920,1976), o cordão do famoso menino do ecordão, atendido por Winnicott (1971,1975), os brincares das crianças com as latinhas unidas por um barbante...Brincares que vão se desdobrando e vão se simbolizando, ao longo da vida, e telefones sem fio das mais variadas formas e distâncias, na construção da capacidade de se separar e de ficar só. Telefones sem fio sim, mas lembremos: sempre ligados por ondas – sonoras, elétricas, eletromagnéticas, mnêmicas, simbólicas; ou seja, ligados, sempre, por pontes de alguma natureza, mesmo que não visíveis.

Retomando a epígrafe com a qual abrimos este escrito: “Os teus olhos foram feitos para atravessar o invisível” (PEIXOTO, 2015, p. 95) – uma linha invisível une Lóri e a analista – laço, vínculo, cordão.


Trabalhamos com os recursos possíveis, rodeando o impossível. Somos “nós, estreitos nós”, que ora se esgarçam, ora se enlaçam no campo de nossa possível humanidade. Uma experiência analítica vitalizante e transformadora, em-linha.


Referências


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NOTAS


1 É importante ressaltar que trabalhamos no “espaço potencial” (WINNICOTT, 1971/2016), no lugar do “entre” que corresponde a um plano de realidade simultaneamente real e fictício, verdadeiro e ilusório, presente e ausente, próximo e distante.


2 Figueiredo e Coelho Jr. (2018) propõem dois tipos de adoecimento: o adoecimento por ativação – matriz freudo-kleiniana – em que as defesas são ativas; e o adoecimento por passivação – matriz ferencziana – quando o trauma é precoce e as defesas são por passivação.


3 Figueiredo se refere aqui ao interessante nome do livro de Robert Caper (2020): Bion and thoughts too deep for words.


4 O uso da primeira pessoa do singular se justifica pelo fato de este atendimento ter sido realizado por uma das autoras do artigo.


5 Poderíamos traduzir por um ‘clamar, chamar, convocar’, mas preferimos manter o uso da palavra em inglês devido à importância que Alvarez dá ao termo.


6 Reserva no sentido da proposta técnica psicanalítica da posição de implicação e reserva do analista de Figueiredo e Coelho Júnior (2008): “...Trata-se de o analista manter-se em movimento entre presença implicada e presença reservada...” (p. 11).


7 “Segundo Ogden (2020), a psicanálise epistemológica está relacionada ao conhecimento e à compreensão, ou seja, ao campo das representações e diferenciações, tendo Freud e Klein como principais autores; por outro lado, a psicanálise ontológica tem Bion e Winnicott como referências, e é relativa ao ser e ao tornar-se - campo do não representado e do indiferenciado.” (RIBEIRO, 2024).


8 As ideias de Dianne Elise (2017) são apresentadas no capítulo Eros no encontro analítico: a sedução suficientemente boa, no livro Chuva n’alma. A função vitalizadora do analista. (CESAR; RIBEIRO, 2023).


 
 
 

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