top of page

Browseando infinito: os estados desvitalizados e o uso das tecnologias digitais

  • marinaribeiroblog2
  • 15 de out.
  • 35 min de leitura

Autores: Marina José Abud da Silva; Marina Ferreira da Rosa Ribeiro


Resumo: O advento da Internet, a digitalização da realidade e a incorporação de dispositivos digitais em nosso cotidiano têm se mostrado fenômenos extremamente relevantes para a compreensão das formas de subjetivação contemporâneas, sendo que a psicanálise, ao privilegiar um olhar para as manifestações inconscientes e para a constituição do psiquismo, tem muito a contribuir nesse debate. Neste trabalho, utilizaremos como base teórica psicanalítica as contribuições de André Green sobre a clínica do vazio, refletindo acerca dos conceitos de trabalho do negativo e duplo-limite. Através desse autor, pretendemos relacionar os estados desvitalizados com a hiperconectividade digital, utilizando para isso vinhetas clínicas que ilustram essa ligação. Por fim, pretendemos contribuir para o debate sobre os efeitos psíquicos advindos da utilização desenfreada dos dispositivos digitais, de forma a evidenciar a complexidade da questão, admitindo que somos simultaneamente criadores e criaturas da virtualidade.  


Palavras-chave: virtualidade, contemporaneidade, clínica do vazio, trabalho do negativo, duplo-limite, desvitalização.

  1. Introdução


É sabido que a comunicação é uma necessidade humana desde os primórdios da nossa espécie. Interessante notar que a primeira menção a esse termo na obra freudiana se deu em “Projeto para uma Psicologia Científica” (1895), na qual Sigmund Freud fala sobre a comunicação do desamparo inicial vivenciado pelo bebê. Nessa ocasião, ele aborda a importância de que o infante possa comunicar os estados de anseio e aflição para quem exerce a função de seu cuidado, favorecendo, portanto, um processo de identificação entre mãe e bebê. Assim sendo, a comunicação para Freud está na origem da constituição psíquica humana.


No entanto, o advento da Internet e das redes sociais têm representado uma modificação acelerada nos processos comunicativos – uma mudança de paradigma no contato entre o sujeito e o mundo. 


O embrião da Internet que conhecemos hoje foi concebido nos anos 1960, nos Estados Unidos, com o nome de ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network). Ela foi projetada com o objetivo de estabelecer comunicação militar sigilosa para fins de segurança e defesa durante a Guerra Fria, na qual traçava-se uma corrida tecnológica entre os dois conglomerados de países, o que impulsionou o desenvolvimento científico global. Paulatinamente, a ARPANET deixou o âmbito estatal e adentrou com maior profundidade o âmbito acadêmico, sendo que, oficialmente, a primeira comunicação via e-mail se deu em 1969, entre dois pesquisadores de diferentes universidades norte-americanas. Nos primeiros anos, o uso da ARPANET era restrito aos Estados Unidos, mas gradualmente se expandiu para outros países, como Holanda, Dinamarca e Suécia, e a partir de então passou a ser denominada como Internet. No entanto, por quase duas décadas, somente os meios científicos possuíam acesso à rede, sendo que, apenas em 1987 a utilização comercial foi permitida. 


Em 1991, surgiu o WWW (World Wide Web), em tradução livre, a Rede Mundial de Computadores, que expandiu os limites antes impostos por uma simples troca de mensagens ou arquivos: com ela, criou-se uma verdadeira teia de informações compartilhadas em que vários servidores poderiam ter acesso livre e simultâneo. A partir do WWW, estabeleceu-se uma linguagem padrão para circulação de dados e tráfegos pela rede, inaugurando a criação de um verdadeiro mundo virtual. Em 1993, essa nova tecnologia foi expandida para todo e qualquer usuário, de forma gratuita. 


A primeira rede social da história surgiu em 1995, a ClassMates.com, que tinha um objetivo bastante claro: possibilitar o reencontro de amigos que estudaram juntos no passado. Porém, a primeira rede social a apresentar perfis pessoais, envios de mensagens e publicações virtuais foi a Six Degrees, criada em 1997. E logo em seguida vieram as principais páginas de comunicação utilizadas até os dias de hoje: o Google, em 1998; o Linkedin em 2002; o Skype em 2003; o Orkut e o Facebook em 2004. 


Nesse meio tempo, a internet adentrou o cotidiano de nossa sociedade, com a promessa de um mundo livre, conectado e igualitário - ao menos no que se refere ao plano virtual. O autor e sociólogo Manuel Castells, em seu livro “A Galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade” de 2003, aponta que na década de 1990 a Internet surgiu como um sistema de comunicação flexível e descentralizado, inicialmente tendo como valores liberdade, solidariedade e cooperação. Porém, esses ideais modificaram-se com a entrada de hackers e programadores. E a cultura da Internet só vem se complexificando cada vez mais. 


Castells (2003) reconhece o caráter revolucionário da Internet: a compara com o impacto social causado pela invenção da energia elétrica. Ele denomina o que vivemos atualmente como “Sociedade em Rede”, descrevendo esse espaço de interações à distância síncronas e em tempo real. O autor reflete sobre os relacionamentos virtuais, apontando para a possibilidade de criar de diferentes identidades on-line a partir das fantasias individuais. Porém, ele considera que as experiências no campo virtual não são tão diferentes da chamada vida real: “É uma extensão da vida como ela é, em todas as suas dimensões e sob todas as suas modalidades” (p.100).


É interessante notar o quanto a concepção acerca do impacto das tecnologias vem se transformando ao longo das décadas no âmbito científico. No início dos anos 2000, a conexão entre diferentes pessoas proporcionada pelos meios digitais era tomada como sinal de evolução e esperança – percebíamos um campo infinito de novas possibilidades de estar com o outro. E é inegável que as conexões virtuais possibilitaram o atravessamento de fronteiras até então inimagináveis. Apenas para dar um exemplo, hoje, como analistas, atendemos pessoas que estão a milhares de quilômetros de nós, e essa distância não impede que se construam verdadeiros e profundos trabalhos analíticos. Apesar disso, nota-se que diferentes pensadores atuais têm complexificado suas compreensões acerca dessas facilidades digitais, integrando diversas dimensões do impacto dos meios virtuais no psiquismo humano. 


Para ilustrar, podemos acompanhar o trabalho da psicóloga e pesquisadora do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Sherry Turkle, um dos grandes nomes atuais no estudo das relações entre seres humanos e tecnologia. Nos anos 90, ela escrevia com otimismo e entusiasmo: "Os ecrãs dos computadores são os novos cenários para as novas fantasias, tanto eróticas quanto intelectuais. Usamos a vida nos ecrãs de computador para nos habituarmos a novas maneiras de pensar acerca da evolução, das relações entre as pessoas, da sexualidade, da política e da identidade" (Turkle, 1997). Porém, ao longo de 20 anos, novas compreensões foram possíveis, e em 2011, Sherry Turkle já abordou o assunto com muito mais cautela e preocupação: "Estamos confusos sobre intimidade e solidão". Em seu novo trabalho Alone Together – Why We Expect More From Technology and Less From Each Other, a autora entrevistou 450 participantes e concluiu que o uso das tecnologias afeta nosso contato com o outro, diminuindo a qualidade das interações e a profundidade dos vínculos humanos. Por um lado, as fronteiras físicas foram praticamente superadas com as tecnologias digitais. Por outro, a cultura da hiperconectividade parece produzir sujeitos mais individualizados, solitários e com dificuldades no campo intersubjetivo. 


Dessa maneira, é claro o quanto a Internet é um fenômeno do nosso tempo. Ela afeta a cultura, a arte, as ciências, os negócios, entre muitos campos que devem ser estudados pelas suas respectivas áreas de conhecimento. Aqui, propomos contribuir com a psicanálise, refletindo acerca dos efeitos psíquicos nos diferentes usos das tecnologias digitais. 


Como é tradicional na pesquisa psicanalítica, o que instiga a investigação teórica é a prática clínica. E com os estudos sobre virtualidade e relações humanas não poderia ser diferente. De forma cada vez mais frequente, os pacientes trazem ao consultório suas conversas virtuais e todos os códigos próprios desse meio: falam sobre o uso dos aplicativos para toda e qualquer tarefa, se queixam do sofrimento psíquico advindo da exposição excessiva aos dispositivos digitais, chegam a insights a partir de conteúdos em redes sociais. Nesse sentido, não podemos ignorar as particularidades do fenômeno virtual na vida psíquica do sujeito, de acordo com Castells (2003): 


Se você não se importa com as redes, as redes se importarão com você, de todo modo. Pois, enquanto quiser viver em sociedade, neste tempo e neste lugar, você terá de estar às voltas com a sociedade de rede. Porque vivemos na Galáxia da internet (p. 230).

No entanto, o que prevalece socialmente é um movimento de subestimar os efeitos das tecnologias digitais em nosso psiquismo. Ao longo dos últimos 20 anos adentramos uma nova gramática em termos de símbolos e representações. Leite (2022) afirma que mudamos de um registro tradicional-analógico para outro contemporâneo-digital, o que afeta diretamente o campo analítico. Nesse sentido, é fundamental refletir acerca desses novos efeitos, sem negá-los ou naturalizá-los. É comum que muitos em nosso campo teórico tendem a afirmar que as tecnologias digitais em nada alteram aquilo que já estava posto anteriormente em nosso pensamento psicanalítico. Outros podem tender a nem cogitar esses efeitos: já faz tanto parte de nossa vivência atual que se tornou até banal. 


O que é inegável é que se trata de um objeto de estudo no qual nós, analistas, também estamos profundamente imersos. Não se trata de algo que observamos apenas em nosso analisando em sessão, com uma certa distância confortável. Pelo contrário, nós também vivemos e sofremos os efeitos dessa nova gramática em nosso cotidiano – o que pode tornar ainda mais difícil identificar as principais problemáticas. O próprio consultório foi tomado pelas tecnologias digitais, e quem não permitiu que elas entrassem, ficou em descompasso com a realidade externa. Hoje agendamos a grande maioria das sessões via aplicativos digitais. Com a pandemia de COVID-19, quem não se adaptou ao atendimento on-line estava impossibilitado de manter seus processos analíticos.


Kowacs (2018) em seu artigo Identificação projetiva eletronicamente mediada: o analista e o dialeto virtual trata da presença de aparelhos eletrônicos no setting pós-digital e seu impacto no campo analítico, explorando a qualidade comunicativa no uso desses dispositivos, tratando-os como um dialeto digital a ser decodificado e incorporado pelos psicanalistas contemporâneos. Nesse trabalho, ela retoma a ideia de que o homem cria a ferramenta, e esta, por sua vez, o recria – algo já observado filosoficamente, porém que tem sido corroborado pela neurociência em estudos que correlacionam a plasticidade cerebral e impactos da tecnologia no funcionamento do cérebro (McLuhan; Hallet & Small et al., apud Kowacs, 2018).


Assim sendo, é evidente que as tecnologias permeiam o nosso cotidiano, e não parece que irão embora tão cedo, até porque, são inegáveis os benefícios e facilidades que elas produzem. A nossa reflexão aqui trata de identificar a complexidade e as ressonâncias psíquicas das tecnologias digitais na constituição psíquica do sujeito contemporâneo, e especificamente, no campo analítico.


No entanto, é fundamental ter em vista que hoje o meio digital tornou-se um grande e bilionário negócio no mundo capitalista. O psicanalista e psiquiatra Pedro Colli fez uma importante contribuição a esse respeito em seu trabalho O Mal-Estar na Civilização Digital (2022), no qual ele articula o bilionário negócio das big techs (maiores empresas de tecnologias mundiais) com os efeitos da vida psíquica do sujeito contemporâneo. Para se ter uma ideia, em 2020, durante a pandemia de COVID-19, o chamado quarteto das big techs – as quatro principais empresas de tecnologia mundiais: Amazon, Apple, Google e Microsoft – tiveram recordes de faturamento. Na época, estimava-se que essas empresas valiam cerca de 7,14 trilhões de dólares, aproximadamente um terço de todo o PIB dos Estados Unidos. Ou seja, estamos falando de um gigantesco negócio econômico. Colli (2020) afirma: 


Pretendo discutir mais adiante o favorecimento da morte psíquica por alguns tipos de tecnologia e de capital que buscam engajar seus usuários por horas e horas a fio na vida online, custe o que custar. Por ora acho suficiente deixar indicado que há uma lógica econômica e outra de design de aplicativos que parecem incitar a “depressão TikTok”. Do ponto de vista de tais pressões culturais sobre o sujeito, realmente não importa onde está a sua alma, desde que continuemos a abrir o smartphone, deslizar pelo feed de conteúdos, produzir todo tipo de informações que alimentam seus algoritmos e consumir os produtos propostos. (...) (p. 74). 

De fato, não se pode esquecer que as diferentes interfaces digitais foram projetadas tendo em vista um grande interesse econômico-capitalista. A construção de todo o aparato digital por trás do que vemos pelas telas é meticulosamente pensada por grandes profissionais dos setores de engenharia, marketing, TI e até psicologia, para produzir algoritmos cada vez mais inteligentes e precisos que têm um só objetivo: nos manter o maior tempo possível na frente das telas. 


Um dos grandes nomes do Vale do Silício, o cientista de dados e especialista em ética da tecnologia, Tristan Harris, demitiu-se da Google após objeções a respeito das práticas observadas por ele em seu trabalho. Em 2020, ele criou o documentário “O Dilema das Redes” no qual expõe seu profundo conhecimento sobre os mecanismos utilizados pela big techs para manter os usuários conectados virtualmente, influenciar suas opiniões e decisões de consumo e até manipular resultados eleitorais. O documentário traz afirmações emblemáticas que nos provocam reflexão: "Somos o produto mais valioso das redes sociais”, "As redes sociais se tornaram máquinas de propaganda personalizada", "A tecnologia está nos dividindo em bolhas de realidade" e até "O objetivo é manter você engajado o máximo possível" (Dilema das Redes, 2020).


Em uma palestra de 2017, intitulada “Como um grupo de empresas de tecnologia controla bilhões de mentes todos os dias”, Harris faz a seguinte declaração: 


A tecnologia não está evoluindo ao acaso. Há um objetivo secreto guiando o caminho de toda tecnologia que criamos. Esse objetivo é a disputa pela nossa atenção. Todo novo site, TED, eleições, política, jogos, até mesmo os aplicativos de meditação, tem que competir por uma coisa: nossa atenção. 

Dessa forma, o presente estudo pretende assumir a complexidade do uso das tecnologias digitais no mundo contemporâneo, visto que existem múltiplos vértices desse fenômeno, e adotar uma perspectiva idealizada ou demonizada seria simplificar demasiadamente a questão. De um lado, é indispensável assumir a ampliação comunicacional que as tecnologias digitais nos proporcionam. Quando bem utilizadas, permitem que pessoas se conectem através de longas distâncias, possibilitam articulações de movimentos sociais e políticos, fornecem acesso muito mais rápido e igualitário de informações. De outro lado, a hiperconectividade virtual também podem provocar consequências prejudiciais às nossas formas de vinculação e ao funcionamento de nosso aparelho psíquico. 


Essas especificidades no uso das tecnologias digitais não são aleatórias: estão intimamente relacionadas aos casos paradigmáticos da clínica contemporânea. Ou seja, nossa forma de se relacionar com o digital é ilustrativa dos processos psíquicos característicos do sujeito do nosso tempo. Como ferramenta social criada por nós, a internet reflete quem somos, mas também participa da construção de nossas subjetividades. 


Portanto, o objetivo deste artigo é investigar a complexidade do fenômeno da virtualidade, visando compreender os efeitos psíquicos de tecnologias digitais no sujeito contemporâneo. Para isso, forneceremos vinhetas clínicas que ilustram o modo como a hiperconectividade virtual se relaciona com experiências de vazio, apatia, tédio e desesperança, relacionando-as com as contribuições do autor André Green acerca dos casos paradigmáticos da clínica contemporânea. 


  1. Browseando infinito: conexões vazias


É fundamental estabelecer como ponto de partida que a constituição psíquica humana e, portanto, nossos modos específicos de sofrer, não são apenas soluções da vida inconsciente individual. Na verdade, eles são profundamente contaminados pelo caldo cultural de cada sociedade. A psicanálise, nos seus primórdios, partiu do incômodo e da curiosidade de Freud diante dos quadros histéricos. E o sofrimento psíquico observado por ele estava intimamente ligado às características sociais do início do século XX. Naquele momento histórico, o que prevalecia como cenário social eram condutas morais bastante rígidas, e consequentemente, uma forte repressão da sexualidade (Freud, 1905).


Desde então, a psicanálise tem buscado compreender as diferentes manifestações psíquicas que surgem (e urgem) na prática clínica. Um analista atento e ativo na contemporaneidade nota que os sentimentos de culpa, autorrecriminações e ataques de angústia – próprias das neuroses clássicas - têm cedido lugar para o crescente surgimento de novas modalidades de sofrimento psíquico. O que observamos é um crescente número de casos cuja sintomatologia se caracteriza por uma expressiva desconexão emocional e desvitalização: são pacientes que apresentam uma forte sensação de vazio existencial, de tédio profundo e apatia constante. 


A fim de ilustrar o que pretendo abordar aqui, trago o relato de minha experiência clínica com o analisando Venâncio. Ele vem para as primeiras sessões sempre apático, entristecido, deprimido. Sei que ele dirige as palavras a mim, mas sinto seu olhar distante, como se encarasse de frente toda a angústia do vazio. E o vazio também se faz presente no conteúdo das sessões: parece-lhe difícil falar – e impossível associar livremente. O que predomina é uma sequência de queixas a respeito de sua dor constante, segundo ele, injustificada, já que ele “não tinha motivos para sofrer”. 


Aos poucos, me dou conta do quanto sua vida é solitária. Nos encontramos em 2020, durante a pandemia de COVID-19, que se alastrou mundo afora provocando medo e isolamento. As sessões acontecem de forma on-line, e mesmo virtualmente, sinto que sou a mais significativa presença em sua vida naquele momento. Via identificação projetiva, sou posta a encarar com ele a angústia do vazio. 


Ele me conta sobre outra presença que predomina em seus dias: o uso dos aplicativos digitais. Fala sobre as vezes em que pede comida no iFood, as compras pelo Rappi, as paqueras pelo Instagram. Mas nada disso parece provocar um sentimento real, eles são usados freneticamente na busca de algo que nunca é encontrado. E o vazio retorna novamente. 


Surge em minha mente a imagem de um hipermercado. A luz é branca, fria e o ambiente está esterilizado – limpo e estéril. Percebo Venâncio olhando para uma prateleira gigantesca, com infinitos produtos para todos os lados, ele age como se fosse escolher um novo amaciante, mas a surpresa é que, na verdade, todas as embalagens são iguais: não há escolha a ser feita. 


Essa imagem produz em mim pensamentos a respeito da experiência de Venâncio com os vários aplicativos – cada qual para cada dimensão do seu ser. Para comer: Ifood; para comprar: Amazon; para namorar: Tinder; para ter amigos: Facebook.... mas no fim, todas as milhares de opções de cada um desses sites não ofereciam nada de verdadeiramente novo. A experiência da hiperconectividade hoje se apresenta como uma resposta única para toda e qualquer demanda: não é mais necessário procurar no mundo algo que corresponda aos nossos desejos, o smartphone promete que você encontrará tudo o que precisa na palma de sua mão. Talvez hoje fosse possível reescrever a letra da música apenas com os nomes dos aplicativos digitais que usamos para cada ação do nosso dia a dia.  De fato, é uma solução muito prática e facilitada para nossos dilemas cotidianos, mas o que isso provoca em termos das nossas capacidades de pensar e nos afetar? Para Venâncio, não havia nada ali que o capturasse: era como escolher entre milhões de amaciantes iguais. 


Interessante também notar a especificidade do objeto amaciante em minha imagem mental, ou seja, um produto de limpeza cujo objetivo é suavizar os tecidos das roupas, eliminando qualquer sensação de rugosidade ou aspereza. Essa função me parece similar àquela promovida pela vivência da virtualidade: nela não precisamos entrar em contato com a estranheza provocada pela alteridade. Todo o design de aplicativo é criado para que possamos ter uma experiência brandamente prazerosa: as cores, os formatos, a linguagem... tudo é pensado para gerar no usuário o máximo de previsibilidade, constância e permanência. Além disso, o algoritmo garante que entremos em contato apenas com aquilo que nos engaja, ou seja, com aquilo que se parece com nosso mundo interno, eliminando qualquer rugosidade que um outro diferente provocar. No campo dos aplicativos digitais é como se tudo tivesse recebido uma grande lavagem de amaciante. 


A experiência de aparecimento súbito em minha mente da imagem do hipermercado pode ser designada como uma reverie. A reverie é um conceito desenvolvido por Wilfred Bion que provém de uma tentativa do autor de ampliar a teoria freudiana dos sonhos. Na obra Teoria do Pensar (1962), Bion apresenta-o como um estado de mente receptivo da mãe, capaz de conter elementos não representados psiquicamente pelo bebê, possibilitando o sonhar da experiência e, consequentemente, a construção de sentidos. Esse mesmo processo pode se dar na relação analítica, quando uma imagem irrompe a mente do analista durante a sessão, indicando uma comunicação inconsciente entre a dupla. 


Desse modo, a reverie em uma sessão com Venâncio significa a abertura de campo e de esperança em meio a tanto vazio que vivemos na experiência das sessões. Se ainda é possível sonhar, talvez não estejamos perdidos. 


Essa sensação de vazio que predomina o processo analítico de Venâncio nos remonta as contribuições de Green acerca dos estados desvitalizados, do negativo e da pulsão de morte e sua função desobjetalizante.  Pretendemos aqui costurar esses conceitos ao caso clínico em questão. 


A descrição inicial da vinheta nos remete ao que Green denominou de clínica do vazio, ou clínica do negativo. Nela, analista e analisando são envoltos por uma atmosfera terrorífica, na qual os dois são postos a lidar com a profunda falta de sentido de estar vivo. Nesses casos, o sentimento de impotência prevalece, pois existe a sensação de que nada será capaz de vitalizar novamente aquele psiquismo: é como se a dupla estivesse naufragando em alto mar, sem ter onde colocar os pés no chão, sem avistar qualquer terra firme, sem limites e, portanto, em completo desamparo. O analista que conta com a associação livre pode se sentir sem recursos para analisar, pois os escassos conteúdos verbais são entroncados, e se alternam com extensas pausas silenciosas, que trazem em si a representação do buraco psíquico experimentado pelo analisando. A esse respeito, Green (1980) afirma: 


Adivinha-se que o estilo narrativo é pouco associativo. Quando as associações se dão, são contemporâneas deste movimento de discreto retraimento que faz com que pareça que se trata da análise de um outro que não está presente na sessão. O sujeito desconecta, se desliga para não ser invadido pelo afeto da revivescência mais do que pela reminiscência. Quando cede, é o desespero que se mostra em toda sua nudez. (p.261)

De forma complementar ao estudo dos estados desvitalizados e da clínica do negativo, Adriana Gradin, em sua obra Corações Murchos – o Tédio e a Apatia na Clínica Psicanalítica, nos oferece um rico e útil relato sobre esses novos modos de sofrimento pautados no tédio e na apatia – sentimentos esses frequentemente referidos por Venâncio. Segundo a autora (2020): 


O tédio e a apatia aparecem na clínica psicanalítica atual de modo considerável e sob as mais diversas formas, como aborrecimento, ausência de prazer em viver, indiferença, falta de energia e de desejo, preguiça para concretizar planos e sensação de anestesia. Esses sintomas são experimentados por um número crescente de jovens, adultos e também por crianças (...). (p. 23)

Gradin (2020) denomina essa sintomatologia de “deserto simbólico”, apontando justamente para a característica árida da clínica com esses pacientes. Já Green (1988) denomina esses quadros de “anorexia de vida”, fornecendo-nos uma imagem nítida de um quadro em que a própria vida aparece em estado de inanição. 


De forma complementar, Minerbo (2017) também nos fornece uma contribuição importante a respeito da sintomatologia do tédio. Segundo a autora, ele pode ser confundido com um quadro depressivo, mas na realidade, trata-se de experiências afetivas distintas. Na depressão, o sentimento é de perda - o deprimido está cheio de tristeza e sonha em recuperar o objeto perdido. Já o paciente característico da clínica do vazio vive com a ausência, com o buraco em que nada pode preencher ou satisfazer. Nesses casos, não há sonho algum: o entediado vive um simulacro de vida (Minerbo, 2017).


No artigo “O analista, a simbolização e a ausência no contexto analítico” (Green, 1974) o autor se refere a esses quadros clínicos marcados pelo vazio, apontando a necessidade de que sejam realizadas alterações na técnica psicanalítica clássica, em especial no que se refere as questões do enquadre e do manejo da contratransferência. Ele aborda os "estados fronteiriços de analisabilidade” (Green, 1974), caracterizados por uma falta de estruturação e organização, se comparados as neuroses ou até mesmo as psicoses. Abordando com mais profundidade o tema da contratransferência, o autor utiliza o interessante termo “objeto mumificado” para se referir a forma com que o analista se sente ao ser capturado pela rede de investimentos desses pacientes. O termo “mumificado” me pareceu descrever muito bem a sensação que predominava nas sessões com Vênancio: o vazio era tanto e tão profundo que parecia que estávamos paralisados, sem possibilidade de movimento e transformação. 


Diante disso, Green (1974) afirma que há uma exigência não somente das capacidades emocionais e empáticas do analista, mas também de suas funções mentais, já que as do paciente estão fora de ação. Assim sendo, a reverie representou um farol em meio a noite escura em que navegávamos, pois através das capacidades mentais da analista, tornou-se possível sonhar, e partir disso, construir uma elaboração psíquica dos conteúdos inconscientes projetados por Vênancio, uma capacidade psíquica que talvez ele não conseguiria colocar em ação naquele momento. Dessa forma, é possível promover alguma vitalização diante de um estado predominantemente desvitalizado.  


Visando uma posição implicada e vitalizadora do analista, Green (1974) propõe uma mudança na técnica da análise: ao invés da técnica dedutiva, utilizada com os pacientes neuróticos, nos estados fronteiriços cabe uma técnica indutiva.  


O termo induzir advém do latim inducĕre, que significa levar para dentro ou trazer para dentro. Ela é formada pela combinação do prefixo in (que indica movimento para dentro) e do verbo ducere (que significa conduzir ou levar). Portanto, inducĕre é geralmente traduzida como introduzir, iniciar ou conduzir para dentro.


Tendo em vista a etimologia da palavra, a escolha de Green por esse termo para designar a técnica utilizada com os pacientes fronteiriços nos parece altamente precisa. A técnica indutiva implicaria, portanto, levar para dentro do paciente algo que a capacidade psíquica do analista pôde transformar. Esse foi o caminho e horizonte almejado no processo analítico de Venâncio. 


Essa técnica indutiva também implica na utilização de uma intervenção já proposta por Freud, no final de sua obra: a construção em análise. Na obra “Construções em Análise” (Freud, 1937) o autor aborda uma possibilidade de atuação do analista que diverge da clássica interpretação, na qual o analista comunica elementos ausentes da história, mas que podem ser induzidos. Essa proposição de Freud é de grande valia para os casos-limite, tal como o de Venâncio, no qual há o predomínio do silêncio e do vazio nas sessões. Diante de tão poucos conteúdos expressos verbalmente, é necessário que o analista possa pensar e inferir como se deu a constituição psíquica desse sujeito. Segundo Green (1974): 


Deste ponto de vista o analista não só revela um significado oculto. Ele constrói um significado que jamais foi criado antes de o relacionamento analítico ter começado (Viderman, 1970). Eu diria que o analista forma um significado ausente. A esperança na análise encontra-se na noção de um significado potencial (Khan, 1978) que permitirá que o significado presente e o significado ausente se reúnam no objeto analítico.

Nesse sentido, a obra de Green “Narcisismo de Vida e Narcisismo de Morte” de (1983) pode ser utilizada como uma indução daquilo que pode ter ocorrido na constituição psíquica de Venâncio. Nela, Green aborda o complexo da mãe morta, afirmando que o traço marcante que singulariza os processos psicanalíticos atuais é a questão do luto. Mas não um luto de uma morte real da mãe, e sim, o luto pela morte de uma mãe que permanece viva, mas que está morta psiquicamente aos olhos da criança. Essa imago materna representaria a transformação de um objeto vivo e fonte de vitalidade em um objeto distante, átono, quase inanimado (Green, 1980). Apesar de sabermos muito pouco da história pregressa de Venâncio, é possível inferir um cenário no qual seu objeto primário foi visto por ele como morto, sem vida, provocando um desencontro radical que acarretou um intenso retraimento de seus investimentos libidinais desde a primeira infância.


Essa hipótese pode ser utilizada, pois temos acesso ao que é vivido na atualidade da sessão. Green diferencia o luto em dois tipos: preto e branco. O luto preto estaria ligado às depressões e, portanto, as manifestações de ódio e destrutividade. Porém, ele seria apenas consequência do luto branco, que por sua vez, estaria ligado aos estados de vazio, próprios da clínica do negativo, nos quais houve uma perda no nível narcísico (Green, 1983). Segundo o autor, a origem desse luto branco estaria em um desinvestimento massivo, radical e temporário, que deixou marcas no inconsciente do sujeito sob a forma de “buracos psíquicos” (Green, 1980). 


O luto branco faz parte da descrição formulada por Green (1983) de série branca, que inclui a alucinação negativa, a psicose branca, o luto branco e a angústia branca.  A ideia de branco surgiu a partir de uma sessão com um paciente que, para descrever seus estados de vazio, utilizou o termo em inglês “blank”, que posteriormente foi traduzido como “branco” (Green, 1983). Porém, o termo em inglês também se refere a algo que é inexpressivo, sem sentido, sem tom. A partir de então, o autor se aprofunda nessa denominação da série branca e cria uma relação entre a cor branca e a ideia de vazio, utilizando a expressão “sonho em branco” ou “tela em branco do sonho” (Green, 1983). A angústia branca, advinda do luto branco, é o que aparece na análise como sentimentos de vazio, o desinvestimento libidinal, a impossibilidade de associar, de representar ou de elaborar - tal como experienciado no processo psicanalítico de Venâncio. Segundo Green (1983): 


O desinvestimento das representações que o deixam se confrontar com seu vazio constitutivo. O Ego se faz desaparecer diante da instrusão do excessivamente pleno de um barulho que é preciso reduzir ao silêncio (...). uma impossibilidade de pensar, acompanhada de um sentimento de separação total, de solidão intolerável e de impulsão corporal (p. 156-157)

Green (1980) afirma que na clínica do negativo houve um luto súbito da mãe que desinvestiu brutal e repentinamente seu filho, provocando sensação de catástrofe: o amor foi subitamente perdido. A consequência é um trauma no narcisismo do indivíduo, constituindo uma desilusão antecipada e que causa, além da perda do amor, uma perda de sentido, já que o bebê não consegue produzir qualquer pensamento que dê conta de explicar a perda ocorrida. Essa construção analítica não pode ser deduzida a partir de rememorações neuróticas, pois é algo que o sujeito não acessa devido ao caráter precoce desses acontecimentos. No entanto, induzir essa história de constituição psíquica no caso de Venâncio nos possibilita emprestar nossas funções mentais para que algum sentido possa ser construído diante de tamanho vazio.  


Nesse sentido, a perspectiva adotada neste trabalho não é de que hiperconectividade virtual seja elemento fundante das patologias do vazio, visto que se compreende raízes muito mais profundas na constituição psíquica do narcisismo negativo. No entanto, a utilização desenfreada dos dispositivos eletrônicos incita processos psíquicos desvitalizadores, que em casos-limite, como de Venâncio, intensificam um processo já corrente de morte psíquica. 


Retomando o caso clínico de Venâncio, cerca de dois anos após a primeira vinheta clínica já apresentada, o paciente foi gradualmente podendo elaborar e dizer mais de seu sofrimento. Houve sessões extremamente significativas nas quais ele pôde falar mais de suas relações familiares e história de vida pregressa, compartilhar pensamentos e construir narrativas. Um trabalho meticuloso, que aconteceu gradativamente, entre altos e baixos. Mas mesmo com as dificuldades, algo foi se costurando. Simultaneamente, ele passou a se relacionar com mais pessoas, começou a namorar e a viver com uma moça. Por identificação, a namorada parecia apresentar sintomas de apatia e tédio como ele. Em uma dada sessão, tivemos o seguinte diálogo: 


–  Ela não está bem. – diz Venâncio (Eu escuto que ele próprio não está bem).

–  O que você está sentindo?

–  Não não, eu disse que ela não está bem, minha namorada. – Me “corrige” Venâncio.

–  Curioso, eu havia entendido que você não estava bem. Talvez vocês estejam mais conectados do que parece. 

–  É, é. Mas então, ela tem tido dificuldades no trabalho...

E Vênancio passa a uma longa explicação sobre as problemáticas do trabalho da namorada. É uma sensação comum nas sessões de que muitas vezes o que eu digo não provoca impacto algum, é frequente que eu sinta como se eu não estivesse ali. Mas prosseguimos. 

–  O que está complicado é que ela fica o dia todo da cama para o sofá, mexendo no celular, jogando videogame. E eu fico com ela, né? Esse fim de semana eu tinha um aniversário de um amigo, mas ela não quis ir, então eu também não fui. Eu sei como é se sentir assim, eu também fico assim às vezes e é uma merda. Você fica mexendo o dia inteiro nas telas. É como ficar browseando infinito.

–  É uma inércia?

–  Exatamente, uma inércia. Você fica navegando, navegando e nada faz sentido. Queria que a gente fizesse mais coisas, o que fosse, encontrasse pessoas, fôssemos no parque ou no cinema. Não precisava ser nada demais... 

–  Me dá a sensação de que nada preenche. 

–  Nada preenche, nada, nada. É um vazio o tempo todo. 

–  Você queria ter ido no aniversário do seu amigo? 

–  Não. E é esse o ponto. Não é que eu queria, mas eu tinha um pouco de energia que se eu aproveitasse eu poderia ir até lá. E então eu encontraria com as pessoas, me conectaria com elas, e talvez voltasse para casa me sentindo melhor.

–  Parece como uma faísca, um lampejo de vida que você precisa aproveitar.

– É, eu engatilho e preciso aproveitar isso. Mas ela nem está conseguindo se interessar por nada, então eu também começo a afundar junto. A única coisa que ela quer fazer é jogar. Acorda, liga o videogame, joga o dia inteiro até de madrugada. Depois se sente mal como se não tivesse feito nada o dia todo.

–  Mas o videogame é um outro mundo? Com outra história, em que vocês podem ser outras pessoas, na verdade, personagens? 

–  Não é sobre isso. Na verdade, é bem mecânico. Mecânico, mecânico, mecânico. Você fica só pensando que precisa fazer isso e aquilo, mirar, atirar, correr. Distrai a cabeça sabe, eu entendo. São partidas de 10 minutos no máximo em que você não precisa pensar em nada. Joga até de madrugada, depois sente que não fez nada, e se deita na cama se sentindo mal. Daí fica ansioso e não consegue dormir. 

- Parece que não há possibilidade de sonhar.  


É notável como Venâncio consegue agora associar muito mais a respeito do que vive e sente, ainda que esteja parcialmente projetado na figura da namorada. Seus relatos nesse momento não são apenas das ações mecânicas que executa, como era há alguns anos antes, agora ele pode reconhecer essa mecanicidade – e se incomodar com ela. Mas alguns pontos dessa vinheta clínica merecem maior detalhamento, visto que ilustram as imbricações de seu sofrimento com as tecnologias digitais. 


O primeiro deles diz respeito aos atravessamentos na experiência de contato analítico entre mim e Venâncio. Primeiro, nota-se que ele fala da namorada para dizer de algo de si próprio – é perceptível que, quando ele diz do sofrimento dela, ele está falando da angústia que ele sente, encontrando nesse mecanismo uma forma de expressar-se.


Outro ponto tem a ver com a minha sensação frequente de que o que eu digo não é recebido por ele, como se qualquer intervenção que eu fizesse não fosse capaz atingi-lo e provocar reverberações. A proposta analítica clássica de que Venâncio, enquanto analisando, fale de si, enquanto eu, enquanto analista, escute e devolva interpretações, me parece um cenário extremamente complexo – e raramente atingido nesse processo analítico. Às vezes ele consegue dizer de si, falando de outro. Por outras, ele age como se eu não estivesse presente, tem a necessidade de negar, ignorar ou atacar tudo o que vem de fora: um “alone together” analítico. Percebo a problemática que se instaura no contato com um outro sujeito, em termos gerais, lidar com a alteridade se torna um grande desafio. A respeito desse fenômeno contratransferencial, Green (1974) afirma: 


O analista está em uma situação de “exclusão objetal”. Suas tentativas de interpretação são tratadas pelo paciente como sua loucura, logo levando o analista a descatexizar seu paciente e a um estado de inércia caracterizada por uma resposta em eco. (p. 44)

Quando ele usa um outro para falar de si, embarco em sua narrativa. Quando ele rebate com agressividade as minhas falas, sobrevivo aos ataques e permito que ele faça esse uso de nossa relação. Ou quando sinto minha presença negada, com delicadeza busco mostrar que ainda estou ali, como um outro sujeito que o escuta. Uma escuta que rompe com a repetição mecânica e infinita a qual ele está submetido, que promove espaço para que, talvez, possa emergir um pensamento. Venâncio me convida para navegar em seu barco, e aos poucos, vou encontrando um assento possível para a alteridade que eu represento. Nesse diálogo que mencionei acima, surpreendentemente, em certo ponto, ele se sente entendido por mim: “Exatamente, uma inércia”. Nesse momento, sinto que pude compreendê-lo verdadeiramente e ele se sentiu compreendido de volta. Que alívio, estamos navegando em águas conhecidas agora: o campo analítico se fez presente em alto mar.  


O segundo ponto que merece ser destrinchado aqui diz respeito ao estado desvitalizado no qual Venâncio e a namorada se encontram. A rotina da “cama para o sofá”, fazendo uso constante de celular, TV ou videogame, gera um cenário de tédio e angústia profundos. 


A sensação de que “nada preenche” é constante e intrigante, pois constitui um paradoxo. Ao mesmo tempo que os meios tecnológicos avançam diariamente, com novas funcionalidades, atualizações, imagens cada vez mais nítidas, jogos extremamente imersivos, inúmeras postagens nas redes sociais, lançamentos em massa de filmes e séries, ou seja, uma quantidade absurda de conteúdos disponíveis para serem consumidos, nada disso, de fato, torna-se significativo, nada disso parece povoar substancialmente o espaço psíquico.


De fato, esse preenchimento a qual Venâncio se refere não pode ser suprido com os produtos digitais, que apenas têm a função de entretê-lo Na verdade, essa falta de preenchimento refere-se aos buracos psíquicos designados por Green na clínica do negativo. 


Para Green, o trabalho do negativo é parte constituinte do funcionamento psíquico normal. A imagem que o bebê cria quando a mãe não está presente, ou seja, sua alucinação negativa fica de fundo na experiência psíquica do infante, operando como um alicerce fundante que, ao mesmo tempo que está sempre presente, também abre espaço para que a criança possa construir novos investimentos objetais. A troca de investimentos pulsionais entre o bebê e seu objeto primário cria a estrutura enquadrante do narcisismo primário, que sustenta a possibilidade de espaço interno para que o sujeito crie relações com novos objetos. (Green, 1966-1967). 


No entanto, conforme vimos no capítulo desta dissertação destinado ao aprofundamento teórico das ideias de Green, o negativo pode assumir uma face desestruturante, beirando os limites do patológico, quando há um desinvestimento significativo, e consequentemente, um retraimento do Eu. Segundo Candi (2012): 


O trabalho do negativo tanto constitui o psiquismo como o ameaça...quando prevalece a ameaça, teremos que nos defrontar com o negativo do negativo, que são os aspectos destrutivos do trabalho do negativo, que se manifestam por causa da ausência ou presença excessiva dos objetos primários. (p. 255)

Assim sendo, podemos hipotetizar que Venâncio está falando desse negativo do negativo, ou do negativismo do trabalho do negativo, que leva o sujeito sempre ao nível zero. Para Green (1997) existe um processo de apagamento relacionado a representação interna do negativo, ou seja, é possível que se realize uma representação da ausência de representação, que em ternos do pensamento corresponde a alucinação negativa, e em ternos afetivos corresponde ao vácuo, vazio, ausência de sentido. Quando esse espaço vazio da ausência de representação atinge proporções maiores do que o tolerável para sujeito, a sensação do “nada preenche” descrita por Venâncio predomina – e os estímulos virtuais servem apenas para ocupar um espaço temporário na mente do indivíduo, mas sem qualquer possibilidade de vitalização significativa.


De fato, nenhum desses conteúdos digitais preenche o vazio experimentado por Venâncio, e por muitos outros. Mesmo assim, são frequentes os relatos de pessoas que cada vez se sentem mais dependentes do uso dos aparelhos eletrônicos. Muitas pessoas hoje afirmam que, ao acordar, sua primeira ação do dia é checar seu celular. Ou seja, nos primeiros minutos do dia, naquele momento de penumbra psíquica, entre o sono e a vigília, já se está em contato com uma avalanche de conteúdos digitais. É impossível desconsiderar que isso deve ter um efeito significativo em nossa vida psíquica. 


E quando retomamos o caso clínico de Venâncio, podemos perceber em sua fala a descrição de uma mente freneticamente povoada de estímulos, que está sendo alimentada constantemente pelos conteúdos fornecidos através dos dispositivos digitais. Venâncio e a namorada parecem se encontrar em um estado de vazio e desvitalização, e como forma de aplacar a angústia, recorrem ao videogame para passar horas a fio, uma maneira de não pensar e não sentir. A angústia reaparece apenas na hora de dormir, quando se dão conta de que o dia passou e nada de expressivo aconteceu. 


Nesse sentido, reflito sobre o quão disruptiva pode ser uma sessão de análise. Permanecer por cerca de uma hora no contato com um outro sujeito. Sem estímulos, sem anúncios, sem luzes coloridas, sem passar para o próximo vídeo. Apenas estar ali, falando e escutando, corpo a corpo, sujeito a sujeito. E isso pode se dar tanto na sessão virtual quanto na presencial: a análise se torna um exercício de humanidade. Além disso, não se trata de uma atenção frenética, que vai ao limite, tentando absorver o que pode dos muitos estímulos presentes. Um processo analítico pede uma atenção que é associativa, livre, que abre espaço e toma tempo. O que parece importar é o estar presente, por si só. Ter sua atenção verdadeiramente voltada para a experiência da sessão, com a presença contínua de um outro, se constitui como primordial – e é algo cada vez mais raro no cenário contemporâneo. 


Retomando o caso clínico de Venâncio, chamam atenção alguns termos utilizados por ele em sua fala (que estão assinalados em itálico no diálogo). Dizem respeito a palavras empregadas para descrever seu estado psíquico: conectar-se ou desconectar-se com as pessoas, ter energia para fazer uma tarefa, engatilhar para conseguir se interessar pelo mundo, mirar e atirar na experiência de jogar videogame, browsear infinito na busca de algo pelas redes sociais. Todas elas apontam para uma descrição de si próprio como uma máquina, um dispositivo humano. Um dispositivo humano apassivado, que apenas recebe os estímulos de prazer, sem a necessidade de tolerar uma frustração de produza pensamentos, e portanto, que promova subjetivação. É como ser uma máquina, que pode estar carregada e funcionando como um celular, ou completamente descarregada e sem vida. Que se conecta como uma tomada que liga e desliga a eletricidade. Que engatilha, mira e atira como uma arma que destrói sem perceber. Que procura infinitamente por algo que nunca encontra. No lugar do humano, estamos diante do dispositivo humano. 


Não acredito que essas expressões sejam apenas questões meramente linguísticas, ou até um efeito do estrangeirismo na cultura brasileira – já que muitos desses termos são importados da língua inglesa. Na verdade, acredito que eles traduzem a construção imagética que Venâncio faz de si próprio, inconscientemente. Como uma máquina, ele serve para executar ações, sem pensar e sem sentir, pois quando há possibilidade disso, a angústia invade de forma avassaladora. Passar o dia da cama para o sofá, alternando entre celular, videogame e TV, permite que ele esteja constantemente estimulado, mas não de forma criativa, e sim, de forma mecânica. Como ele próprio diz “você não precisa pensar em nada”. Anulando-se o pensamento, intenta-se anular o sofrimento, mas o (re)produz de muitas outras formas. Até que a madrugada chega e o reencontro com o vazio torna-se inevitável. 


Nesse ponto podemos tecer uma relação com a crônica de Clarice Lispector “Medo da eternidade” (1970). Nela, a escritora relata o seu “aflitivo e dramático contato com a eternidade”, quando sua irmã lhe dá pela primeira vez um chiclete, descrevendo-o como uma “bala que nunca acaba, dura a vida inteira”. A ideia de nunca acabar de pronto espantou Clarice, que mesmo assim, resolveu experimentar a guloseima. No início, se deliciou com o gosto doce, mas quando ele esse prazer findou, a resposta de sua irmã foi “agora mastigue para sempre”. Clarice conta como se assustou com essa experiência, com o desconforto de ter na boca um “puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada.”. Ela descreve sua experiência da seguinte forma: “Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito”. Ao final da crônica, a aflição toma por completo a narradora, que sem suportar mais a experiência, deixa o chiclete cair no chão, fingindo para a irmã que havia sido sem querer. 


A experiência que Venâncio relata nos remete a esse “puxa-puxa cinzento e infinito” do chiclete. Os jogos de videogame estão ali, sempre à disposição, para que se jogue quantas partidas desejar: eles são infinitos. Mas o que pode parecer magnífico na experiência da eternidade, rapidamente se revela uma experiência de extrema angústia e desprazer – o gosto prazeroso da descoberta se esvai e a característica inesgotável daquele estímulo apenas nos coloca em contato com o buraco sem fundo do vazio. É como cair em queda livre e nunca chegar ao chão, ou então, é como estar no mar sem poder tocar os pés na areia. A supressão de qualquer limite, de qualquer fim para uma experiência nos arremessa diretamente para a angústia do vazio e da morte. 


Nesse sentido, o trecho da vinheta clínica e a crônica de Clarice Lispector nos remetem às contribuições greenianas a respeito da pulsão de morte. O autor aponta que, enquanto a pulsão de vida teria como representante psíquico a função sexual, a pulsão de morte teria como representante psíquico a função autodestrutiva (Green, 1984). Nesse sentido, a pulsão de vida teria a função objetalizante, ou seja, seria a energia psíquica de investimento e criação de objetos, transformando os objetos externos em representantes psíquicos internos. Em contrapartida, a pulsão de morte teria a função desobjetalizante, ou seja, seria a responsável pelo desligamento, pelo desinvestimento – que ao mesmo tempo que é necessária para a constituição psíquica do sujeito, sua predominância pode também provocar intensos sofrimentos. Nesses casos, o desinvestimento seria tal que haveria a criação de verdadeiros espaços vazios, negativos, que afetivamente provocam no sujeito sentimento de falta de sentido em estar vivo (Green, 1984).


A pulsão de morte parece, dessa forma, operar tanto na experiência de jogar videogame de Venâncio, quanto na de mascar chiclete de Clarice. A sensação de uma ação que nunca se esgota, que é repetidamente igual, que estimula, mas sem provocar afetação, leva esses dois sujeitos a depararem-se com uma ausência completa de sentido. O movimento dialético de investir e desinvestir os objetos é equilíbrio dinâmico de nossa mente: mas não é isso que ocorre nessas experiências, que parecem fixar os sujeitos em repetições infinitas. Essas repetições nos remetem também às descrições de Freud em “Além do Princípio do Prazer” (1920), ocasião na qual o autor propõe o conceito de pulsão de morte para explicar a compulsão à repetição, ilustrada pelos casos de pesadelos dos neuróticos de guerra e do jogo do carretel. Assim, articulando com as proposições de Green, podemos hipotetizar que o desinvestimento, próprio da função desobjetalizante da pulsão de morte, quando toca a compulsão de repetição mortífera, se radicaliza, e não somente desinveste o objeto, mas provoca o desinvestimento no próprio Eu. Segundo Cano (2015): 


De tal modo, a compulsão à repetição mortífera, ao contrário de repetir o desejo inconsciente – e, portanto, estar referida à intemporalidade do inconsciente e à lógica da esperança – é, na verdade, um anti-tempo. Nesse sentido, presente, passado e futuro ficam reduzidos ao instante da descarga completa de toda tensão, impossibilitando qualquer projeto. (p.17)

E é exatamente essa a consequência que percebemos no caso clínico de Venâncio: o tempo está reduzido a descarga presente proporcionada pelo uso das tecnologias digitais, quanto seu Eu sofre desinvestimentos massivos.


Continuando o detalhamento da vinheta, minha reação a seguir foi de perguntar à Venâncio: “Mas o videogame é um outro mundo? Com outra história, em que vocês podem ser outras pessoas, na verdade, personagens?” Quando fiz essas perguntas, eu estava procurando algo no qual pudéssemos nos agarrar em esperança. Fiquei imaginando que talvez houvesse uma história, em que ele encarnava um personagem e vivia aventuras num mundo de fantasia. Como quando lemos um livro, e ele faz arejar nossos pensamentos, ao nos transpor para um universo muito diferente do nosso – ou talvez mais parecido do que imaginávamos. Será que nessa experiência de Venâncio em jogar videogame havia algo do tipo? No entanto, sua resposta me leva justamente a reconhecer a concretude de sua vivência: “mecânico, mecânico, mecânico”. A partir dessa compreensão, consigo elaborar a seguinte consideração final: “Parece que não há possibilidade de sonhar”. Portanto, o que se configura, de fato, é um sequestro da capacidade de pensar e sentir.


Ogden (2009) afirma que o objetivo de uma análise é que a dupla analítica possa, em conjunto, sonhar os sonhos que o paciente, sozinho, não pôde sonhar – e que havia, portanto, transformado em sintoma. Sonhar, através de duas mentes, os sonhos que não podiam ser sonhados de forma isolada, promove a retomada das capacidades psíquicas do paciente, inclusive a de continuar transformando sintomas em sonhos. Dessa forma, compreendo meu caminho e direção analítica com Venâncio. Além de promover um espaço em que pode predominar um outro tipo de atenção, também pode ser o espaço de sonhar juntos àquilo que tem sido soterrado em sua hiperconexão digital. 


Chegamos então à expressão usada por Venâncio, e título desse capítulo, browseando infinito. O verbo criado por ele “browsear” refere-se ao termo “browser”, em português, “navegador” – o programa que nos permite navegar pela internet, encontrar páginas e exibir imagens, textos e vídeos nos dispositivos digitais. A origem da palavra inglesa vem de "to browse", que significa "explorar". Inicialmente, o termo "browser" era utilizado para descrever o ato de percorrer livros, revistas ou outros materiais de leitura de forma casual, sem um objetivo específico. O que se assemelha muito à experiência de Venâncio, que navega por horas e horas a fio os meios digitais em busca de algo que nunca se encontra, sem propósito e sem fim, à deriva no oceano das redes. Percebemos, portanto, um paradoxo: o desejo criativo-exploratório completamente desvitalizado cedeu espaço a um navegar infinito, do qual nada se encontra. 


Interessante notar que a página de conteúdo de cada mídia digital (chamada de feed) é projetada para exibir uma quantidade ilimitada de conteúdo em cada sessão de navegação. No entanto, a ideia por trás do design é manter os usuários engajados e oferecer uma experiência contínua, atualizando constantemente o feed com novas postagens à medida que o usuário “arrasta para baixo”. Ou seja, com um mínimo movimento de deslizar do dedo indicador você pode ter acesso a uma quantidade gigantesca de conteúdos digitais, sempre novos e atualizados, de forma a causar a sensação de que sempre haverá algo novo para ser consumido. Dessa forma, cria-se uma espécie de hipnose digital que gera um estado de alheamento de si, do outro e do mundo.


Recentemente, os aplicativos têm adotado o sistema de reprodução automática, no qual um vídeo já se segue ao próximo, mesmo que o usuário não o selecione ativamente. Isso foi programado justamente para capturar ainda mais a atenção do usuário sem que ele sequer precise tomar qualquer ação. Assim sendo, esse sistema incentiva o indivíduo a passar mais tempo na rede, retendo-o em contato inativo com o conteúdo. Temos, portanto, um processo de apassivação do sujeito. Tudo é desenhado para criar uma experiência altamente estimulante, prazerosa, acelerada e simultaneamente infinita. A esse respeito, Leite (2022) afirma: 


Acredito que [as mídias sociais] foram desenhadas exatamente para isto – engajar nossa atenção pelo máximo de tempo possível, recorrendo aos mecanismos mais primitivos do funcionamento mental para entregar seus resultados. Passar de postagem em postagem pode ser uma experiência narcótica, justamente porque sequestra o aparelho psíquico em torno do princípio do prazer e de suas projeções narcísicas. E é aqui em que observamos o princípio da realidade ceder.

E essa experiência narcótica, à qual se refere Leite, se assemelha àquela experienciada por Venâncio. Um desejo de manter-se o dia todo diante dos aparelhos eletrônicos, obtendo prazer em cada partida vitoriosa no videogame, em cada curtida em uma foto do Instagram, ou em cada piada em vídeos do TikTok. Um prazer efêmero, pautado exclusivamente na satisfação via princípio do prazer – que nos meios digitais, pouco têm de lidar com o princípio da realidade. Se a frustração teimar em aparecer, basta começar uma nova partida do jogo, deslizar a tela para ver uma nova imagem, dar play em um novo vídeo. Se pensar exige tolerância à frustração, as redes favorecem ao não pensamento, a satisfação apassivada do princípio do prazer. Assim, é possível evitar o contato com a realidade e com a alteridade, em uma narcotização da vida. Não é à toa que o sentimento de angústia só reaparece no escuro da madrugada – quando não há mais luz azul que possa raptar seu aparelho psíquico.


  1. Considerações finais


Nossas interações com as tecnologias digitais estão de tal modo intrínsecas ao nosso viver contemporâneo, que frequentemente não percebemos mais o impacto dessa utilização em nossa subjetividade. No entanto, como ferramentas criadas por nós, as tecnologias digitais refletem nossa constituição humana, sendo desenvolvidas para tentar suprir justamente o que nos falta enquanto sujeitos, visando minimizar ao máximo nossos sofrimentos e limitações. Se demandamos por comida, cria-se um aplicativo especializado em entregas rápidas e descomplicadas. Se demandamos por relacionamentos, cria-se um aplicativo para facilitar os encontros românticos. Se demandamos por prazer, cria-se um aplicativo especializado em divulgar vídeos curtos que nos entretenham infinitamente. 


Porém, essas promessas de facilitação da vida cotidiana podem ser uma faca de dois gumes quando falamos de experiências de hiperconectividade, ilustradas pelas vinhetas clínicas apresentadas nesse capítulo. Nessas experiências, percebemos um efeito narcotizante e apassivador, que visa evitar a formação de pensamentos e o contato emocional. Como consequência, surgem relatos clínicos de vazio, desesperança e falta de sentido em estar vivo, já que, diante do surgimento de qualquer angústia, opta-se pela experiência hipnotizante da (des)conexão digital, em detrimento de uma conexão com si próprio e com o outro. 


Referências Bibliográficas


Candi, T. (2012). O trabalho do negativo. Revista Brasileira de Psicanálise, 46(1), 192-195. Recuperado em 03 de setembro de 2023, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0486-641X2012000100016&lng=pt&tlng=pt.


Cano, T. M. (2015). A teoria pulsional freudiana à luz da leitura de Green: uma alternativa ao biologismo mítico. Tese de Doutorado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo. doi:10.11606/T.47.2015.tde-06082015-155127. Recuperado em 2024-01-14, de www.teses.usp.br


Castells, M. (2003) A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.


Freud, S. (1996). Projeto para uma psicologia científica. In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1895[1950]).


Freud, S. (1969). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. In J. Strachey (Ed. e J. Salomão, Trad.)Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud (Vol. 7, pp. 119-231). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1905).


Freud, S. (1937). Construções em análise. Moisés e o monoteísmo, esboço de psicanálise e outros trabalhos. Tradução sob a direção de Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1975. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. 23, p. 289-304).


Gradin, A. M. (2020) Corações Murchos – o Tédio e a Apatia na Clínica Psicanalítica. Curitiba: Appris Editora.


Green, A. (1966-1967). Narcisismo primário: estado ou estrutura? In: Narcisismo de vida, narcisismo de morte. São Paulo: Editora Escuta


Green, A. (2017). O analista, a simbolização e a ausência no enquadre analítico. In A loucura privada (M. Gambini, Trad., pp. 69-102). Escuta. (Trabalho original publicado em 1974)  


Green, A. (1980). A Mãe Morta. In Narcisismo de vida, narcisismo de morte. São Paulo: Escuta.


Green, A.  (1983). Narcisismo de vida, narcisismo de morte. São Paulo: Escuta.


Green, A. (1986). Pulsão de morte, narcisismo negativo, função desobjetalizante. In D. Widlöcher (Org.), A pulsão de morte (p. 57-68). São Paulo: Escuta. (Trabalho original publicado em 1984)


Green, A. (1997). A intuição do negativo em O brincar e a realidade. Livro Anual de Psicanálise, XIII, 239-251.


Lispector, C. (1994). Medo da eternidade. In C. Lispector, A descoberta do mundo (pp. 446-448). Francisco Alves. (Original publicado em 1970)


Minerbo, M. (2017). O tédio e a clínica do vazio. Revista Brasileira de Psicanálise, 51(3), 53-63. Recuperado em 14 de janeiro de 2024, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0486-641X2017000300004&lng=pt&tlng=pt


Leite, P. C. B. S. (2022). O mal-estar na civilização digital. São Paulo, Blucher. Orlowski, J. (2020) O Dilema das Redes.


Turkle, S. (1997) A vida no ecrã: a identidade na era da internet. Lisboa: Relógio D’Água


Turkle, S. (2011) Alone Together: Why we expect more from technology and less from each other Sherry Turkle. New York: Basic Books.



 
 
 

Comentários


© 2023 by Train of Thoughts. Proudly created with Wix.com

bottom of page